domingo, 6 de janeiro de 2019

Meditações II.

II.
Observe sabiamente que poucos olham ao relacionar-se intimamente a alguém com cuidado, tirando muitos dos sabores e das delícias na união em corpos, o que lhes sobram? Pois agora está nítido em meu olhar que o motivo de tantas separações, intrigas e traições, todas debruçam-se nas paixões, num fogo sem dono e a que serve apenas ao corpo, escravizando em sofrimento o sensível do ser. Pois embora a alma também delicie-se com as sensações, todas de emoções fortes e intensas, vicia-se a elas, não pode em paz saciar coisas sutis que são a maravilha da união, no detalhe percebe-se a união dos amados, se o estão unidos ou distantes.
Abaixo deste céu, tudo o que mortais como eu e a ti, podemos fazer é tomar responsabilidade, tudo é responsabilidade, infelizmente muitas vezes percebemos isto  muito tarde ao ponto de não podermos voltar, desfazendo os nossos erros. Acredito que isto atormente a ti também, embora eu não consiga imaginar o quanto, mas suspeito que conforme a velhice venha, isto cause mais sofrimento a nós, não me alongarei em algo tão fúnebre. E o preço a pagar pelo amor, este saudável e agradável a ti e a quem ame, vem-se com um imenso esforço, abnegações e muito desgaste, pois tente imaginar como podem duas vontades diferentes unirem-se, em plena harmonia e coerência, se nem gêmeos são assim, desejam vidas diferentes, quem dirá aqueles que amam-se.
É óbvio que não deve importar-se com meu conselho, pode entregar-se a muitos amores, sentir o prazer em muitos corpos, aumentando a perícia na sua busca de alegria e prazer, mas o coração depois de certo tempo, envolto numa lembrança buscará o que lhe foi mais essencial. Ou se quiser renegar a esta busca, entregando-se a uma vida afastada da alegria do corpo, por algum sofrimento ou medo, está livre, sofrendo com a solidão e o silêncio em noites longas, pois tudo está em nossa responsabilidade, nossa alegria quanto a tristeza. Pois abaixo deste céu, somos todos os prisioneiros e carcereiros de nós mesmos, a nossa prisão é o que acreditamos, se quiser acreditar que é um sábio, ou uma bruxa, um amante, uma virtuosa ou um sedutor, tudo está a teu poder, recebendo e pagando o salário por tua escolha, o bom e o ruim dela, todos unidos como as uvas num ótimo vinho.

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